por vezes, a ispiração para uma crônica vem de uma notícia de jornal. Através da informação, o cronista analisa o cotidiano, tecendo sua análise crítica da vida em sociedade.
http://oglobo.globo.com/pais/dois-brasileiros-suspeitos-de-matar-tres-bolivianos-sao-queimados-vivos-5793522
A notícia veiculada, e para aonde você pode ir clicando no link acima, serviu de inspiração para a crônica abaixo, feita por mim.
"Mexeu com meu irmão, mexeu comigo"
Certas horas, nós somos invadidos pelo sentimento de brasilidade. A sensação de fazer parte do coletivo, que há milhões de pessoas como você, feito irmãos, nos dá a sensação de que não estamos sós, que somos, mesmo uma única e pequena parte da engrenagem, figura essencial para o funcionamento do país.
Mas nem sempre é assim. Quase nunca.
Quando nada em especial acontece, tornamo-nos, cada um, seu próprio país. No máximo, o que nos conta de verdade é a família. Durante quase todos os dias do ano olhamos somente para os nossos umbigos.
Vejam as Olimpíadas, por exemplo. O televisor fica ligado nos bares e locais de trabalho. Todos lá, olhando para a tela, torcendo pelos atletas brasileiros. Torcendo pelo Brasil.
As pessoas que se aglomeram para sentir no coração o sentimento de ser brasileiro através do esporte são as que virarão as costas para a sociedade, votando em candidatos corruptos, jogando lixo no chão, desperdiçando água potável, desrespeitando as leis de trânsito e virando as costas para os mesmo atletas que conseguiram despertar nos brasileiros o sentimento de fazer parte de uma nação. Basta perder, é só ver, o atleta já é taxado de “amarelão”, aquele que não corresponde às expectativas por ele criadas. Mas, e quando quem o critica não é um brasileiro, quando é um estrangeiro a dizer que o esporte no Brasil é um fiasco, que o brasileiro só pensa em esportes nas olimpíadas, que o Governo não dá a mínima para o esporte? Sobe aquela raiva, não é?
Parece aquela história: se o pai bate e espanca o filho, tudo bem; mas se alguém encosta nele, se um professor briga com o menino, pronto: vira confusão.
Certa vez dois vizinhos meus brigaram, dois irmãos. Nunca mais se falaram. Viviam a fazer intriga um do outro com os parentes e amigos. Numa pelada de rua, um homem começou a discutir com um dos irmãos; o outro estava fora de campo esperando sua vez de entrar. A briga começou. Tão logo começaram a se agredir, o irmão de fora entrou e, com o irmão com quem não falava havia anos bateram no homem. Mas bateram muito. A amizade de anos não voltara. Depois da briga continuaram sem se falar. Mas naquele momento em que o pau cantou, viraram irmãos novamente. Um queria odiar o outro com exclusividade, e que ninguém se interpusesse entre o ódio de um pelo outro.
Com o brasileiro ocorre o mesmo: “se alguém se meter com algum conterrâneo, vai se ver comigo, mesmo que seja com um brasileiro para o qual eu virei as costas, que eu maltratei e explorei”.
Hoje saiu uma notícia de que dois brasileiros foram queimados vivos em território boliviano. Na Bolívia? Alguém perguntou. Naquele país miserável? É, alguém respondeu.
Confesso que, quando li o título da manchete, senti meu patriotismo me esquentar a pele. Senti raiva da Bolívia e compaixão dos brasileiros. Logo depois refleti sobre o que acabava de sentir, enquanto as pessoas que estavam em volta seguiam falando mal da Bolívia, cobrando alguma postura da presidente do Brasil. "Como assim, dois brasileiros queimados vivos na Bolívia, aquele país de m.... e o governo não vai fazer nada?", alguém perguntou, e todos os outros que debatiam a notícia concordaram, e se exaltaram também, contra os bolivianos.
Como quem fala sem pensar, uma pergunta saiu da minha boca: “Quanta gente morre assim aqui no Rio?”. “O que você que dizer?”, alguém perguntou-me. “Nada”, respondi, “só que quando morre alguém pelas mãos do tráfico ou de alguma milícia, assim mesmo, queimado, sem julgamento feito por autoridade competente, todo mundo acha bom. Agora que dois suspeitos de assassinato morrem queimados na Bolívia, parece que queimaram não os caras, mas queimaram o Brasil”.
A história era essa: dois suspeitos de assassinato morreram pelas mãos da população de uma pequena cidade boliviana que era guardada por dez policiais.
A discussão acalorada continuou. Saí de perto. Não sei que em qual rumo seguiu aquela conversa.
Só sei que aqueles que ficaram sensibilizados e extremamente ofendidos com a morte dos brasileiros vão seguir tratando o Brasil feito aqueles irmãos: Podem maltratá-lo, ignorá-lo, desde que seja eu, um brasileiro.
Vitor Gouveia
Muito maneiro esse texto professor vitor
ResponderExcluirAdorei. Segue a linha da crônica argumentativa. Muito bom.
ResponderExcluirHoje em dia é assim mesmo, o flâneur tornou-se high tech e modernizou-se com o tempo, até porque ele não é bobo nem nada, não é? - e perambula mais é no espaço virtual.
Também achei o fim picada os brasileiros serem retirados à força de dentro de uma delegacia de polícia e serem executados daquela maneira, na frente de todo mundo. Como eram brasileiros, talvez não tivesse mesmo ninguém para defendê-los. Então, morreram exemplarmente, para saciar a vontade sanguinolenta da nação boliviana.
vitor eu gostei do texto porque vc falou que o pau comeu,la no texto fala das brigas na ruas vc falou que os irmão brigaram e nunca mais voutaram a se falar vitor eu queria que vc falase mais disso la na sala pq eu gostei muito eu nao sabia que era tao legal assim leu texto, vitor e so pq eu nao tenho muito tempo xau fica com deus espero na terça pa na segunda eu não vou avisa ai para mim que eu vou pro medico com minha avo bjs
ResponderExcluirgostei muito dessa cronica vitor e te muito mais cronicas para nos ler mos abraço vito
ResponderExcluirProfessor Vitor , o senho podia ler essa cronica na sala de aula eu li mais não entendi direito o senho podia ler para eu dar uma entendida a turma gosta e se entesar e vai querer comentar mais coisa . Ficou show Vitor
ResponderExcluirProf.Vitor , achei essa cronica muito legal ,sobre a Bolívia e tambem sobre os irmãos ,é muito interessante essa cronica .Parabéns por ter criado essa cronica muitoo legal é muito interessante bjs Vitor
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